Etapa 2: Viseu-Aguieira – Parte 1

Hoje está um dia fantástico para escrever um artigo sobre a nossa aventura pela Estrada Nacional 2. A chuva cai na rua, os vidros salpicados por gotas de água, o barulho dos carros que passam sobre as poças, os ramos e as folhas das árvores que abanam ao sabor do vento, o frio que atravessa a roupa dos que precisam de andar lá fora. Na confortável temperatura do escritório, o computador sussurra música calma, música que podia embrulhar a nossa e vossa viagem pela EN2.

Depois da primeira etapa, que nos levou de Chaves a Viseu, já sentíamos falta da estrada, da Estrada Nacional 2. Dois dias de viagem souberam a pouco, porque tanto vimos, sentimos, fotografámos. É a diferença entre a estrada que nos leva e a estrada que nos guia, que nos mostra, que nos abraça, que em cada quilómetro sentimos que estamos num caminho que é mais do que retas e curvas.

Como bons iniciantes, cometemos vários erros na etapa 1. Mas os erros servem para nos ensinar, mesmo que no caminho se erre outra vez. O carrossel da vida, portanto… Daí que partimos para esta segunda etapa com outro cuidado, não tanto para não errarmos, apenas para não cometermos os mesmos erros.

Para quem deseja fotografar a EN2 e tudo o que a rodeia – e aqui tudo é mesmo força de expressão -, sentimos que na primeira etapa, com receio de não a concluirmos como previsto, deixámos de guardar imagens de locais importantes. Para quem disse que não interessava o tempo que levasse a concluir toda a Nacional 2, resvalámos logo na primeira abordagem.

Viseu fica a sensivelmente uma hora de caminho de Coimbra – de onde somos – pelo que todas as etapas que nos propusemos fazer até perto de Vila de Rei podem ser feitas no próprio dia, sem nos obrigar a ficar muito tempo longe dos nossos compromissos familiares e profissionais. E, ao mesmo tempo, a curta distância até ou dos trajetos permite-nos fazer a Nacional 2 com mais calma, com outro olhar.

Não temos absolutamente nada contra a chuva, mas todos temos de concordar que não é o melhor estado do tempo para nos aventurarmos pela estrada, daí que tenhamos escolhido o dia 15 de Novembro para nos dedicarmos à etapa 2. Chovia em todos os dias, antes e depois, que era a janela que tínhamos para dedicar o nosso tempo à Nacional 2. Só que nem sempre o que queremos é o que pode ser e dois dias antes o Maurício constipou-se, com as habituais dores no corpo, nariz a pingar, dores de cabeça. De certa forma, só para nos fazer lembrar que quem manda não somos nós…

Felizmente, entre previsão de dias cinzentos e chuvosos, surgia um sol por detrás da nuvens no dia 18. Desta vez tudo impecável, pelo que saímos de Coimbra às 5H00, para ainda chegarmos de noite a Viseu. Não só pretendíamos fotografar mais desta cidade – o que não fizemos com outras durante a etapa 1 -, como o queríamos fazer ainda com as luzes das ruas acesas, antes do sol nascer.

Uma das melhores horas para fotografar, imediatamente antes do sol nascer

Em termos fotográficos, a luz é do mais importante que há, pelo que se pudéssemos teríamos sempre a luz e cores do nascer e do fim de dia, em tons mais frios, ou quentes. Antes de amanhecer, ou melhor, antes do sol surgir no horizonte, o céu ganha primeiro uma tonalidade azul – tal e qual como acontece depois do pôr do sol, antes de ficar noite escura – o que, combinado com as luzes artificiais das ruas, oferece todo um ambiente mágico a qualquer lugar.

Ainda bem que Viseu não aderiu à moda da luz led. Tira todo o charme às ruas

Seis e pouco e já estamos fora da carrinha, com as mochilas às costas e tripé nas mãos. Nas mãos do Maurício, porque o Hugo gosta de gozar da sua liberdade e este acessório diz-lhe muito pouco. Há vantagens para ambos os lados, mas enquanto o Maurício faz duas, três, quatro fotos, o Hugo ganha vantagem e consegue o dobro, ou mais. Natural e felizmente, diferentes. É assim que, no fim, nos complementamos neste projeto, nesta aventura pela Estrada Nacional 2.

É impossível que esta foto não transmita a sensação de frio. É que estava mesmo…

Enquanto o Hugo se embrulhou pelas ruas junto à Sé Catedral, o Maurício montou ali mesmo o arraial. Tripé no topo da escadaria da Igreja da Misericórdia de Viseu, virando para a Sé a câmara. É um edifício imponente, mas algo difícil de fotografar por ocupar uma área tão grande. Uma imagem panorâmica acabaria por resolver o problema e mostra aquilo que o visitante vai encontrar ao lá chegar. Fotografar a Igreja da Misericórdia é quase tão ou mais complicado, mas lá conseguimos uma imagem que nos agradou.

A única solução de mostrar todo o espaço é através de uma fotografia panorâmica
Foi uma acrobacia para conseguir uma fotografia em condições por falta de espaço

Entretanto, o Hugo fotografa o frio, as luzes, as ruas, as janelas, o funicular, as fachadas. Esta hora do dia, que ainda é noite, é fascinante, permite-nos obter imagens que, mesmo sem se poderem considerar obras de arte, nos agradam, agradam de forma geral a quem as vê. Seria impossível estes resultados ao meio-dia, com luz forte, ou mesmo num dia cinzento. Se pudéssemos, fotografavamos toda a Estrada Nacional 2 ao amanhecer, ou ao entardecer. Seria perfeito… num mundo ideal.

Se pensa fazer a EN2, seja em que altura for, obviamente que não pode deixar de estacionar o carro e perder-se nas ruas de Viseu. E não estamos só a falar em perder-se para encontrar uma pastelaria onde possa experimentar os tão deliciosos doces Viriatos ou Rotundinhas de Viseu. Se está de dieta, aqui está uma boa oportunidade de a colocar em pausa por umas horas.

São oito da manhã e a cidade já mexe. Talvez seja o segredo para fazer esquecer o frio que faz, que nos gela as mãos, que tenta atravessar a roupa que nos protege dele. Há os primeiros raios de sol, os sapatos apressados, os motores que aceleram, os cheiros que já lembram que está na hora de tomar o pequeno almoço, uma bebida quente.

Mas chegava a hora de partir, a estrada, a EN2 esperava-nos para mais alguns quilómetros. Só que… ainda havia uma paragem que nos obrigaria a mais cerca de uma hora ali por Viseu, mas já fora das suas ruas mais centrais: a área envolvente junto à Casa da Ribeira, pequeno museu com história regional. No Google, durante a fase de pesquisa para esta etapa, pareceu-nos um bom sítio para fotografar. E não desiludiu nada. Mas mesmo que não tenha como objetivo fotografar, aconselhamos vivamente a visita. Deixámos o carro no recinto onde costuma ser a feira semanal e percorremos o curto, mas bonito, percurso a pé. Agora sim, já nos podemos despedir de Viseu.

Rapidamente estamos a navegar pela Nacional 2. A saída de Viseu fez-se sem qualquer problema e quase sem darmos por isso entramos em Fail (que tentação ler o nome deste local em inglês). Desde a Sé até Fail são cerca de 8,6 kms. Vá com atenção (duvidamos que precise, mas não custa alertar), porque após passar sob a ponte do IP3, uns 300 metros depois encontrará uma pequena ponte sobre o Rio Pavia. Nada como encostar para poder ouvir a pequena cascata e a água a correr. Aprecie o momento, a paisagem. Leve o tempo que quiser e depois parta novamente, porque depois a EN2 vai entrelaçar-se na paisagem, numa sequência bonitas de curvas, que no outono ganha outra cor. Ao seu lado, ali bem ao lado a sempre rápida IP3, a tal que nos leva sem abraçar.

Maurício fotografa na pequena ponte por onde passa o Rio Pavia
Do outro lado a paisagem é esta, com uma luz incrível nesta manhã

Junto ao km 181, do lado esquerdo, vai vislumbrar, meio escondida, a Estação de Sabugosa, que agora não vê parar comboios, mas apenas ciclistas, ou desportistas, de fim de semana, ou do ano inteiro. A Estação de Sabugosa é parte integrante da Ecopista do Dão – liga Vimieiro, Santa Comba Dão, a Viseu, num percurso aproximado de 50 kms.

Não íamos com pressa, nem depressa, mas mesmo assim falhámos a entrada de acesso, pelo que foi necessário inverter a marcha junto à serração que fica paredes-meias. Mais uma vez, as cores do outono vestiam todo o espaço. Que espetáculo maravilhoso este que a Mãe Natureza nos oferece. De graça.

Estação de Sabugosa

As cores do outono pintam o cenário na Estação de Sabugosa

Saímos contrariados, mas Tondela já chamava por nós. Podíamos ouvir. A partir daqui poucos (ou quase nenhuns) marcos vimos. Não existem mesmo? Estarão assim tão escondidos? Seja como for, em Canas de Santa Maria, junto ao Restaurante Casa Maçarouco, um arvoredo em tons de castanho, amarelo, laranja, verde detém-nos por breves minutos, para mais um conjunto de fotografias. Ainda falta algum tempo até ao almoço, mas o cheiro que vem do restaurante começa a moldar-nos o raciocínio. Tivemos de ser muito fortes. Aliás, partir dali, com aquele cheirinho, só mesmo sendo super-heróis… Seguimos e ainda paramos na Casa do Povo de Tondela, situada na Ecopista do Dão.

Estacionados em Tondela, pequenina mas jeitosinha, percorremos a Nacional 2 – pelo passeio, naturalmente – no sentido inverso até encontrarmos a Capela do Calvário, que o Hugo tinha visto no Google Maps. Mas ali ao vivo, àquela hora, com aquela luz, não pareceu fotogénica. E, depois, uma senhora, carregada com vários sacos, sentou-se na escadaria a telefonar. Provavelmente aguardava quem a viesse buscar. Exatamente do outro lado da rua, uma pequena igreja estava aberta, vimos de relance que tinha velas acesas no interior. Seria um velório? Com a calma que estes espaços nos exige, espreitámos. Que capela bonita. Ninguém tinha morrido, felizmente, estava aberta para quem quisesse entrar, usufruir daquele espaço de fé. E de luz. Sim, que espaço bonito para fotografarmos, que luz espetacular trespassa as janelas. Capela de Santa Eufémia, é o nome pelo qual deve perguntar se por distração não der por ela, já que as suas portas ficam escancaradas ali para a “nossa” Estrada Nacional 2.

Igreja de Santa Eufémia, em Tondela

 

[ Entretanto lá fora o dia continua cinzento. Os ramos e as folhas continuam o seu bailado. A música no computador para por uns momentos. A fome já aperta e está na hora de fazermos uma pausa e sairmos para o almoço. Ao fim destas linhas já merecemos. ]


Já agora, o nosso almoço, durante a etapa 2, foi em Tondela, no restaurante S. Barnabé. Lugar simpático, acolhedor e comida bem confecionada, preço acessível, de gente de trabalho, sem nove horas. É disto que gostamos, gente de (quase) tu-cá-tu-lá, mesmo que nos tratemos por você. Se por lá passar, quando sair lembre-se de que, mesmo em frente à porta de saída, a mesmo que nos dá entrada, está a Estrada Nacional 2, aonde vamos regressar a seguir.

Que bons estavam estes rojões

 

Continua…

Passo a passo, de Chaves até Faro.

Restaurante S. Barnabé
Rua dos Bombeiros Voluntários N.º 80
3460-572 Tondela
+351 969 723 146

Playlist musical
Já agora, se ficaste interessado(a) nas músicas que ouvimos enquanto escrevemos este texto, aqui ficam os links para o Spotify. Espero que gostes.

https://spoti.fi/31LEy5O
https://spoti.fi/2WlZG1y
https://spoti.fi/2WiRY8c
https://spoti.fi/31Njiws

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