EN2 de Chaves até Faro numa Autocaravana – Entrevista com As 3, de Lés a Lés

Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer às três pela vossa disponibilidade para esta entrevista, ou melhor, chamemos-lhe antes “conversa”. Quem são As 3, de Lés a Lés?
Antes de mais nada, agradecemos a simpatia e o convite! As 3, de Lés a Lés são curiosamente um clã de 3: a Daiana, a Jennifer e a Maritza. Somos irmãs, Aveirenses e, sempre que podemos, viajamos juntas.

Já deu para perceber que esta curiosidade, esta vontade de conhecer a fundo o nosso país, de viajar, de ter novas experiências, está-vos no sangue. Quando fizeram a primeira viagem a três, e como foi?
Bem, se formos rigorosas… a primeira grande viagem juntas foi a que nos trouxe até Portugal! Não nascemos cá, os nossos pais são portugueses mas há mais de 20 anos que Portugal é a nossa casa.

Foto de nós pequeninas, antes da Grande viagem até Portugal

Mas vá…, turisticamente falando, se a memória não nos falha, a primeira viagem a três aconteceu em 2007… ainda eramos nós umas miúdas e como ainda tínhamos Cartão Jovem, decidimos escolher uma Pousada da Juventude e lá fomos até Viana do Castelo, porque queríamos pernoitar no Navio-Hospital Gil Eannes. Foi uma aventura!!! Desde a viagem de comboio que teve de ser interrompida e feita de autocarro de Darque até Viana… até à odisseia de dormir num Navio, repleto de detalhes que é também Museu cheio de história! Foi das experiências que de facto guardamos com grande emoção!!!
Mas a última mais marcante, é sem dúvida especial – a rota da Estrada Nacional 2.

De quem foi a ideia de usar umas férias de Verão, não para ir à praia, mas para fazer a Estrada Nacional 2 de Chaves até Faro?
Nem conseguimos precisar bem… Mas o “momento e a escolha oficial” esteve a cargo das duas mais novas! Uma delas “tropeçou” numa publicação no Instagram que tinha o mapa de Portugal e toda “aquela linha de alto a baixo” lhe chamou a atenção e guardou a informação. Em conversa as duas começaram a pensar sobre as férias (isto ainda no Outono/Inverno, por aí…) e a ideia de se querer fazer algo “diferente” e impactante… Opções em cima da mesa, sem darmos conta já pesquisávamos mil e uma coisas e quando demos por ela… a escolha foi óbvia. Horas depois foi só comunicar à mais velha (sem direito a contrapor) e escolher as datas, que por (muitas) vezes é sempre o mais difícil… (risos)

Como meio de transporte, vocês não poderiam ter escolhido melhor: uma autocaravana! Acreditam que, ao viajar, dormir, comer, descansar, conviver, tudo sobre rodas, a autocaravana vos veio aproximar ainda mais da Estrada e tornar a experiência mais intensa?
A escolha da autocaravana também tem a sua ciência! (risos) Já há muito que comentávamos que seria super giro fazer uma roadtrip de autocaravana! Inclusive temos alguns amigos que os pais são caravanistas e quando tivemos a oportunidade de estar dentro de uma Autocaravana “à séria” toda apetrechada, foi aí que ganhamos mais interesse… Quando então ficou decidido a Estrada Nacional 2 como “destino”, havia que escolher como nos deslocarmos… ora a pé, de bicicleta ou moto não eram opção. E sendo de carro teríamos de tratar de alojamento… Achamos que ter de fazer várias reservas ia ser chato… e iria condicionar o nosso tempo e ritmo durante a viagem… Então contas feitas… “fez-se luz”… e juntou-se o útil ao agradável! Sabemos que não iriam faltar alojamentos acolhedores prontos a bem receber e isso iria acrescentar valor à viagem, mas a verdade é que poder deslocar-nos sem problemas, escolher onde parar e pernoitar às horas que quiséssemos foi sem dúvida uma das razões que pesou na escolha e revelou ser uma boa maneira de estar permanentemente NA Estrada.

Para tornar a experiência mais completa, o “clã” equipou-se a rigor! As t-shirts personalizadas mostram o quanto vocês se entregaram a esta aventura. Certamente que não passaram despercebidas pelo caminho. Algum episódio do qual se recordem?
Nem nos conseguimos recordar do porque da escolha da “farda”. Certamente foi na sequência do planeamento mais detalhado, da pesquisa de relatos e experiências de outros aventureiros… e como demos conta que havia informação mas mais orientada para roteiros de carro e principalmente de moto, fomos percebendo esta dinâmica dos emblemas nos coletes e autocolantes nas motos e capacetes dos motards e em alguns locais de paragem… e pensamos: “porque não identificarmos a aventura com uma imagem?” Mas queríamos que a imagem fosse simbólica desta viagem, mas que espelhasse o que já fazemos há mais tempo e queremos continuar a fazer!
A cor, foi talvez escolha da mais nova e curiosamente o amarelo é a cor associada à imagem da Rota da EN2. Ao longo do caminho, em particular nos locais onde carimbávamos o Passaporte da Rota, as pessoas reparavam bem na estrada estampada e no nome (“As 3…”) e quando em conversa dizíamos que eramos irmãs achavam ainda mais graça, ou se por acaso uma não estava, facilmente comentavam: “mas está a faltar uma!” (risos). Em Faro fomos muito bem recebidas no posto de turismo, e em jeito de brincadeira até comentamos que tínhamos sido as primeiras a chegar!! (Alusivo à camisola amarela no ciclismo!!! (risos)


Apesar de haver sempre lugar para a descoberta e improviso, desde cedo percebemos que vocês tinham tudo planeado. Antes de saírem já tinham uma ideia bastante clara do que queriam ver, o que visitar, onde parar para dormir?
Sim! Planeamento foi palavra de ordem, e até as margens para imprevistos foram planeadas (risos). A Autocaravana foi reservada com muita antecedência, o que permitiu um desconto simpático!! Arranjamos mil e uma maneiras de poder ter os passaportes antes de iniciar a viagem em Chaves. O Guia da Foge comigo foi a “Bíblia” que lemos rigorosamente meses antes do início da viagem. Horas e horas de pesquisas em sites/blogues, grupos e páginas do Facebook e perfis de Instagram. Dedicamos 7 dias para a EN2 e assim estávamos a contemplar mais dias do que a média que encontrávamos, que era 4 a 5… Mas com tanto, tanto mas tanto para ver e descobrir, 7 dias não seriam suficientes! E não foram mesmo! Fomos seletivas antes, descartando a paragem em locais/regiões onde já estivemos antes ou onde achamos que só por si merecem a nossa maior atenção, que não conseguiríamos dar no âmbito desta aventura, coincidindo com a região norte e centro que são também mais próximas e que a “qualquer momento” voltamos lá! Vimos os horários de funcionamento de alguns espaços a coincidir ou não com o ritmo e tempos da viagem estimados… pensamos nisso tudo! Quanto a locais de dormir, tínhamos de saber bem onde encontrar locais onde as caravanas são permitidas e onde pudéssemos fazer as devidas manutenções… Não podíamos correr o risco de não ter água, ou de não ter onde esvaziar os depósitos como deve ser!
Tínhamos algum receio, e por isso estipulamos as nossas etapas também em função das possibilidades de locais próprios para isto, de maneira fluida ao longo do percurso. E até correu muito bem!!

Ao longo de percurso procuraram, sempre que possível, pararam para carimbar o passaporte da Rota EN2?
Sim! Carimbamos todo o passaporte! Não há paginas em branco!!!
Até as localidades que não “estão ali à beirinha” na Estrada, nós fomos visitar! Se é para conhecer e descobrir, é para desviar e pronto! (risos) Mas não foi tarefa simples!! O horário de funcionamento de alguns locais condiciona essa possibilidade, e em alguns casos os postos de combustível e os bombeiros foram a “salvação”! Nem sempre carimbo “oficial” com os kms: umas vezes carimbo do estabelecimento ou autocolante, mas valeu cada paragem!
Desde logo que achámos imensa graça à dinâmica do passaporte, embora algumas pessoas não achem graça à “caça ao carimbo”. Quisemos agradecer por cada carimbo e então deixámos um pouco de Aveiro em cada local, entregando um saquinho de Raivas, que são um biscoito típico aveirense (ovos moles com tanto calor não ia correr bem…!!) Em alguns locais o gesto foi tão bem recebido que criou-se uma espécie de troca de oferendas e ainda trouxemos umas lembranças!

Em quantos dias fizeram o percurso? E fariam de forma diferente se fizessem a viagem hoje?
Fizemos a EN2 de 19 a 26 de Agosto de 2019. Foram 7 dias intensos. Propositadamente iniciamos a uma segunda, para só apanharmos um fim de semana, pois muitos estabelecimentos poderiam estar fechados e isso limitaria a dinâmica dos carimbos e a visita de alguns espaços culturais. Quisemos ter mais 2 dias não fosse a coisa demorar…, ou correndo bem, podíamos fazer um pouco da costa algarvia antes de rumar a casa!
Faríamos algumas coisas de forma diferente, sim. Tendo possibilidade, com mais tempo ainda! Faríamos alguns desvios que não conseguimos fazer e alguns dos que fizemos pensaríamos melhor, como S. Pedro do Sul, por exemplo!!
A altura do ano também influencia a experiência, certamente…!! E percorrer a Estrada nas diferentes estações do ano achamos interessante…

O objetivo de percorrer a Estrada Nacional 2 é muito mais do que fazer quilómetros sobre alcatrão. Vocês fizeram uma série de desvios, saindo da rota principal para visitar pontos de interesse. Se pensarmos na diversidade da nossa paisagem, cultura, gastronomia e arquitetura que podemos encontrar de Norte a Sul do país, concordam que quem faz a EN2 como se de uma corrida se tratasse, simplesmente não entendeu o sentido desta viagem?
Perfeitamente de acordo! Sem a menor dúvida! Aceitamos as escolhas de cada um…, conseguimos perceber que são várias as dinâmicas e emoções que cada um conseguirá sentir mediante a forma como escolhe percorrer a Estrada, mas andar e somar algarismos ao conta-quilómetros, com o menor número de paragens ao longo do percurso, está longe de ser aquilo que esta viagem permite plenamente…
Neste sentido, conseguimos invejar (e louvamos a coragem de) quem a faz a pé, por exemplo! E lamentamos que haja quem diga que “em 3 ou 4 dias faz-se bem!”… Percorrer os kms, não é o mesmo que percorrer a Estrada!!!
Sempre que podíamos, aproveitávamos para andar a pé pelas localidades, perceber e viver um bocadinho as dinâmicas locais… Não foi possível em todas, com muita pena!

Nós em Ferreira

Como foi chegar a Faro, uma satisfação pela missão cumprida, ou um sentimento de saudades de algo que ainda agora acabou?
Foi um cocktail de emoções. Foi uma superação, um alívio e satisfação por conseguirmos chegar em segurança e conforme o planeado. E sim.., Quando começamos a ver as placas indicando escassas dezenas de kms até Faro já dávamos conta que fazíamos tudo um pouco mais devaaagaaar… (seria influências alentejanas?!?? (risos)) ou seria o nosso inconsciente a dizer “vá!!! mais devagar.., que se depressa vamos, mais depressa chegamos…, e isto acaba!…”.
A vontade era de inverter a marcha e repetir tudo até Chaves, mas só no dia seguinte, pois o cansaço era imenso!
A sensação foi fantástica: ir vendo a contagem crescente dos kms nos marcos proporcional às experiências e descobertas que fazíamos por onde passávamos, o atingir “a meta” e não ter mais estrada para explorar, fazendo-nos parar e pensar: “Caramba!! Fizemos tanta coisa, conhecemos tantos lugares e tanta gente, dormimos tão pouco… e isso tudo cabe em 739kms!!!”: é indescritível! Foi uma experiência brutal!

Quando iniciamos este projeto de fotografar a EN2, também nós fizemos alguma preparação, planeamento, descobrir pontos de interesse que possam ter potencial fotográfico. E para isso usámos duas ferramentas essenciais: o guia da Foge Comigo e o Instagram. E ao fazer esta pesquisa no Instagram, inevitavelmente nos cruzamos com vocês @as3delesales, com a Elsa e o Bruno do @para_o_infinito_e_mais_alem/, ou com o Tiago da @vespa_thepinkpanther, isto apenas para referir alguns, pois muitos mais poderiam fazer parte desta lista. Concordam quando dizemos que, mesmo não conhecendo ninguém pessoalmente, esta partilha de fotografias, esta troca de ideias, nos tornou a todos numa enorme família que ultrapassa as fronteiras físicas da Estrada?
É mesmo!! Também nós seguimos esses mesmos passos, e foi bonito de ver que fomos percorrendo a estrada quase na mesma altura! Íamos encontrando os autocolantes uns dos outros ou as publicações de uns serviam já de preparação e/ou alerta para outros…
Destacamos o engraçado que foi: no Encontro organizado pelo Templo N2 (em Chaves), onde tivemos a oportunidade de conhecer alguns pessoalmente, a sensação de que já nos conhecíamos há muito mais tempo!
Desde então, são cada vez mais as pessoas que estão a escolher a Estrada como destino de férias, e continuamos a alargar estes laços/contactos virtuais. Inclusive, mantemos contacto com muitas pessoas que já percorreram e que estão a pensar percorrer…
Entretanto, contamos os dias para que o próximo Encontro se concretize e teremos imenso gosto em reencontrar uns e conhecer outros mais!

Por falar em fotografias, registar a viagem é obrigatório para mais tarde recordar. Alguma das três tem uma especial paixão por fotografia, ou todas vocês estiveram de serviço com a câmara (ou telemóvel) na mão?
A do meio tem desde muito nova o gosto pela fotografia! É a que “se perde” a fotografar o que não lembra a ninguém… e pede para parar aqui e ali para “só mais uma foto”. Dá uma ou outra orientação para conseguirmos captar algumas imagens estrategicamente… A mais velha é especialista em apanhar-nos distraídas e os “por detrás das câmaras”…, já a mais nova, domina as selfies e o selfie stick.
Todas estiveram de serviço, claro! Isso permitiu que faltando baterias houvesse sempre alguém a garantir alguma foto! Todas têm perspetivas diferentes de vários locais e isso fez com que as memórias fotográficas que recolhemos estejam mais completas… E mesmo assim, fica sempre a faltar mais uma foto daquele momento, daquele instante ou daquele lugar…

Desta viagem, recordam-se de alguma peripécia que queiram partilhar aqui?
Tantas! Algumas não podemos contar… (risos). Mas houve mesmo muitas peripécias, claro!! Conduzir uma casa com rodas foi sem dúvida uma experiência brutal!
Hoje temos plena certeza que não voltamos a passar as poldras no rio Tâmega em Chaves… Voltar atrás em Vila de Rei, para fazer a verdadeira Estrada pelo traçado primitivo foi de loucas! Bem que achamos estranho os “marcos modernos” e em conversa com o staff do bar na praia do Penedo Furado, confirmamos que não tínhamos vindo pelo “caminho certo”, e como queríamos foto no ponto certo onde estamos à mesma distância de Chaves e de Faro…, óbvio que tínhamos de voltar para trás, até ao meio “meiinho” meio da Estrada!! Chegar de noite fechada à Barragem de Montargil foi uma aventura… e acordar às 6h para captar todo o nascer do sol na barragem foi penoso…, mas valeu bem a pena!!
O último quilometro da estrada foi tão especial que até o queríamos esticar tanto que nem vimos o marco do 738km. Fomos direitinhas ao “fim” na rotunda dos postes com os ninhos das cegonhas, como vem indicado no Guia da fogecomigo, mas que pelo que parece não há certezas sobre ser verdade que acabava ali a EN2, aos 739,26kms… No dia seguinte de manhã é que “oficializamos a chegada” com luz do dia,… e carro sim, carro não, apitava e gritavam que não era ali o “fim”! Sabíamos bem que 0,5km à frente ainda havia uma placa a indicar “Chaves”…, e fomos lá, claro!!

Para finalizar, planeiam um dia fazer novamente a Estrada Nacional 2? Ou, para já, os vossos planos passam por apreciar outros dos imensos lugares fantásticos que o nosso país tem para oferecer?
Não descartamos de todo a possibilidade de a voltar a fazer toda! Quem sabe, agora de Faro a Chaves!? Só algumas partes não tem tanta graça mas, curiosamente, já voltamos a Ela, aquando do Encontro organizado pelo Templo N2 em Chaves, fomos até Vila Real ver de perto o recente mural alusivo à EN2, e queríamos carimbar o passaporte pois de Vila Real tínhamos apenas um autocolante dos Bombeiros, e aproveitamos e levamos covilhetes, pitos e cristas de galo. (risos) De Vila Real a Chaves, formos pela EN2 sentido S-N e foi tão giro, chovia e estava frio (completamente o oposto de quando a fizemos em Agosto!!!)
Mas como dissemos, queremos ir a locais que “deixamos de lado” e se isso implicar dar um rolé pela EN2, ahh! Faremos com todo o gosto!!
Não faltam locais fantásticos para descobrir e visitar! Falta é tempo e disponibilidade compatível para nos fazermos ao caminho, porque vontade há de sobra…


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2 Replies to “EN2 de Chaves até Faro numa Autocaravana – Entrevista com As 3, de Lés a Lés”

  1. Obrigada pela simpatia! Pelo convite e oportunidade!!
    Certamente esta partilha ficará guardada com carinho, pois é praticamente um marco de celebração! Foi há precisamente 1 ano que nos preparávamos para chegar a Chaves e começar a aventura!!

    Somos apreciadores das fotografias que partilham! E seguimos atentamente o vosso percurso pela nossa querida Estrada Nacional 2.
    Aguardamos que em breve retomem…!!

    Abraço das 3!!!

    1. Nós é que temos de agradecer toda a vossa disponibilidade para partilharem um pouco da vossa história e descreverem toda esta aventura! Sem dúvida que o vosso testemunho enriqueceu este blogue, e será certamente uma inspiração para todos os que o visitem.
      Obrigado!
      Maurício e Hugo

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